Thursday, December 28, 2006

pensamento de fim de ano

quando a esmola é demais, deus pega o troco.

Sunday, December 10, 2006

a outra

* repostagem

definitivamente não sofria. fins de caso não têm que ser sinônimo de pontadas doloridas no coração. o fato é que desta vez era tudo muito fácil: ali nunca houve amor. nunca houve palpitação, mãos trêmulas ou palavras hesitantes. fora tudo uma série de momentos agradáveis esvaziados de emoção.sem surpresas. uma calmaria confortável pela qual ela se deixara levar. mentiria se dissesse que não esteve feliz. esteve. mas amar, não amou.

sentia agora um misto de desprezo e ódio. desprezo não por imaginar seus braços envolvendo a outra. não porque a outra ouvia as palavras que eram oficialmente suas. e ódio não por deixar de tê-lo. não por perdê-lo para sabe deus quantos alguéns. o misturar de sentimentos vinha apenas da sensação desconcertante de perda de tempo. de investimento perdido em uma empreitada em falência desde sua fundação.

a verdade é que pouco importava que houvesse uma ou mil outras. sensação pior era sentir-se a outra de si própria. de trair sua convicção em troca de conforto sentimental. conforto se acha em colchões e sofás. o amor é desconfortável e requer uso de cinto de segurança. sentia-se fraca e preguiçosa por ter se rendido tão facilmente a uma (falsa) estabilidade ausente de frios na boca do estômago.

embora soe contraditório, sentia um imenso alívio. guardava para si um riso vigoroso, de quem se sente viva novamente. era o fim do tempo de sorrisos tranqüilos e abraços mornos. acabara o tempo das mãos dadas, era chegada a hora de mãos e pernas trêmulas. de calafrios e olhares desviados. de palavras que teimam em não sair da boca. fechava-se a calmaria em temporal. a possibilidade do amor tomava todos os cômodos e fazia escapar pelo canto da boca o riso que ela vinha guardando sob o véu da raiva. naquele exato momento, ela deixava de ser a concubina de si mesma.

desalento*

* publicado recentemente no livro 23 contam 28

sinal fechado. de um lado da calçada, ela aproveita o tempo pra acender um cigarro. antes que seus olhos alcançassem novamente o semáforo, ela o vê, depois de tantos meses...quase um ano. agradece a deus por ter resolvido acender o cigarro.

do outro lado da rua, ele já a havia visto há muito tempo, embora fingisse o contrário. admite em segredo que a imagem do lado de lá da pista de asfalto lhe desconcertava,só não sabia de que forma. até que descobrisse, finge falar ao celular.

em muitos momentos da vida, as facilidades tecnológicas podem ser nada além de uma tormenta. esse era um deles. o cronômetro do semáforo, antes um countdown para que a vida interrompida pelo trânsito seguisse seu curso, parecia agora ser uma bomba relógio. e quem não temeria a explosão que poderia acontecer? duas vidas que já foram tão “uma”...e agora eram tão “cada uma”...estavam prestes a colidir, no exato instante em que atravessassem o rio de piche que os separava.

5,4,3,2,1...verde!

cada um é arrasastado pelo fluxo da correnteza de seu lado da margem.

-oi, tudo bom?
-oi, tudo bom?

o clichê que ninguém responde, e sim devolve, também sem esperança de resposta. um encontro. nada de colisão, nada de explosão.sem pernas trêmulas, sem vontade de olhar pra trás e sem curiosidade de saber se quando olhassem o outro estaria olhando. sem saudades, sem suor frio. sem qualquer tipo de emoção.

“oi, tudo bom?” , nada mais.caminharam pesarosos em sentidos opostos. pouca coisa na vida é mais triste do que quando “oi, tudo bom?” quer dizer realmente apenas “oi, tudo bom?”...

chamada restrita

- oi?
-oi, sou eu.
-(suspiro) por que tá ligando de número restrito?
- porque você não me atende.
-é.
- por que você não me atende?
- porque eu não tenho nada pra te dizer.
-mas eu tenho.
- e eu já ouvi tudo. várias vezes. tô ocupada, tchau!
-peraí, não desliga!
- que saco! o que mais você quer falar que eu já não tenha escutado? que me ama?que sem mim você não vive?que foi apenas um deslize?* guarda essas palavras pra quando você for usar de verdade,meu filho! porque eu tô de saco cheio.
-mas eu só quero ficar com você, meu anjo.
-então fica. mas assim, como anjo.
-ahn?
-anjo não tem sexo. tchau!

*pequena e medíocre-tanto quanto possível-homenagem aos hermanos.