Sunday, December 10, 2006

a outra

* repostagem

definitivamente não sofria. fins de caso não têm que ser sinônimo de pontadas doloridas no coração. o fato é que desta vez era tudo muito fácil: ali nunca houve amor. nunca houve palpitação, mãos trêmulas ou palavras hesitantes. fora tudo uma série de momentos agradáveis esvaziados de emoção.sem surpresas. uma calmaria confortável pela qual ela se deixara levar. mentiria se dissesse que não esteve feliz. esteve. mas amar, não amou.

sentia agora um misto de desprezo e ódio. desprezo não por imaginar seus braços envolvendo a outra. não porque a outra ouvia as palavras que eram oficialmente suas. e ódio não por deixar de tê-lo. não por perdê-lo para sabe deus quantos alguéns. o misturar de sentimentos vinha apenas da sensação desconcertante de perda de tempo. de investimento perdido em uma empreitada em falência desde sua fundação.

a verdade é que pouco importava que houvesse uma ou mil outras. sensação pior era sentir-se a outra de si própria. de trair sua convicção em troca de conforto sentimental. conforto se acha em colchões e sofás. o amor é desconfortável e requer uso de cinto de segurança. sentia-se fraca e preguiçosa por ter se rendido tão facilmente a uma (falsa) estabilidade ausente de frios na boca do estômago.

embora soe contraditório, sentia um imenso alívio. guardava para si um riso vigoroso, de quem se sente viva novamente. era o fim do tempo de sorrisos tranqüilos e abraços mornos. acabara o tempo das mãos dadas, era chegada a hora de mãos e pernas trêmulas. de calafrios e olhares desviados. de palavras que teimam em não sair da boca. fechava-se a calmaria em temporal. a possibilidade do amor tomava todos os cômodos e fazia escapar pelo canto da boca o riso que ela vinha guardando sob o véu da raiva. naquele exato momento, ela deixava de ser a concubina de si mesma.

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