Wednesday, February 04, 2009

(auto)prescrição mé(r)dica

putaquepariu!
acabou meu rivotril
o doutor não me ouviu
não me venha com doril

corpo são, mente sã
é 6 mg de clonazepam
um à noite e até amanhã!
não estrague meu afã

não me faça olhar pra trás
não me interessa mais
dê-me logo meu apraz
não restrinja minha paz!

não mexo com buspirona
porque traz o esgoto à tona
mas não me deixe na lona!
só peço nefazodona

eu aceito minha minha sina
e toda verdade cretina
mas sem minha fluoxetina
não me peça pra ser fina!

enjoei de ser imbecil
não tem cura com plasil
acabou meu rivotril
êta putaquepariu!

Monday, December 15, 2008

imprevisão do tempo


chove em minha janela numa manhã de segunda em que existir, por si só, é um sacrifício. não porque a vida não valha a pena, não porque a felicidade seja incerta e não porque o amor doa; mas só porque é segunda, e faz frio. e chove, chove, sem trégua. relutante e movida talvez por um senso de capitalismo inconsciente, deixo meu ninho de edredons e vou até a janela porque "piso de madeira estraga quando molha". por um instante, deixo a janela aberta, deixo que o piso estrague, deixo que a chuva molhe. chove um chover daqueles diagonais, que não facilita o ofício de sombrinhas ou guarda-chuvas. e perto da janela, chove um chover que molha a mim, rosto, colo peito, mãos e braços. não importa. deixo. chove. chovo. só por um instante. afinal, hoje é dia de chuva.

talvez o chover tenha apenas vindo preencher o grande vazio que começa a se abrir em mim.

Sunday, December 14, 2008

livrai-nos do mal, amém.

perdão pelas poucas palavras.
por pecar propositalmente.
pela porca poesia.
perdão peço, prudente.

pelos peitos partidos.
pela putidão passiva.
pelos pêlos perdidos.
pelo pleito- pocilga.

pelos parcos pensamentos.
pela pífia paciência.
pela puta preguiça.
por pedir proficiência.

pelo pobre português.
pelos porras profreridos.
por peversões premeditadas.
pelo perene perdão pedido.

Friday, December 12, 2008

sobre o valor do silêncio


eu quero que as palavras se explodam. e junto com elas as teorias desta nossa sociedade que pregam que tudo deve ser conversado, debatido, explanado. eu trocaria a edição de ouro do aurélio por um olhar que entenda exatamente o que o meu diz. e que não espere por palavras minhas.

Wednesday, December 10, 2008

sobre teorizar a vida



A espiral do silêncio é uma proposta por Elisabeth Noelle Neumann sobre os efeitos dos meios de comunicação massivos. Tal hipótese apregoa que os indivíduos detentores de opiniões minoritárias tendem a se manter calados, por receio de represálias vindas da maioria da população, caso exponham seu pensamento.

Pressupõe-se, com essa hipótese, que os meios de comunicação formam (ou, pelo menos, contribuem decisivamente para) a opinião pública.

O termo espiral é utilizado para demonstrar como essa comunicação se dá na forma de um ciclo, ficando presa a esse sistema.


fonte: wikipedia

e não é que a vida imita a teoria da comunicação?

Friday, November 21, 2008

sobre análises morfológicas

de repente, amar tornou-possível, quase palpável. de repente, sem planos. talvez pela lógica que rege "água mole e pedra dura", o amor prevaleceu. talvez pela simplicidade de não poder prevalecer outra coisa. talvez porque o verbo de toda saudade, toda dúvida, toda negação, todo sofrimento só tenha sido o amar, embora ninguém soubesse, de fato. e na análise morfológica do presente, só importa o verbo.

os contos de fada da vida cotidiana são muito mais tortuosos, mas muito, muito mais bonitos.

eu quero mais é continuar sendo parte do sujeito composto desse "felizes para sempre", diariamente.

Tuesday, July 10, 2007

sobre as coisas que a gente deixa



sempre fica alguma coisa pra trás. o que a gente esquece, o que tiram da gente, o que simplesmente se perde pela vida... sempre fica alguma coisa pra trás.

dentre as coisas que eu já deixei pelo caminho, o que mais me doeu foi o que eu não pude levar comigo. que eu queria levar:no colo, no bagageiro, escondido no bolso...de qualquer forma. só pra ficar perto de mim. porque eu sei que preciso. e vou precisar. mas ficou preso na alfândega da vida. simplesmente ficou pra trás.

e dói mais ainda pensar que nos diversos caminhos, sou eu que posso ficar pra trás. não porque fiquei na alfãndega, o que é uma fatalidade. mas porque sequer fui posta na bagagem.