Sunday, December 10, 2006

desalento*

* publicado recentemente no livro 23 contam 28

sinal fechado. de um lado da calçada, ela aproveita o tempo pra acender um cigarro. antes que seus olhos alcançassem novamente o semáforo, ela o vê, depois de tantos meses...quase um ano. agradece a deus por ter resolvido acender o cigarro.

do outro lado da rua, ele já a havia visto há muito tempo, embora fingisse o contrário. admite em segredo que a imagem do lado de lá da pista de asfalto lhe desconcertava,só não sabia de que forma. até que descobrisse, finge falar ao celular.

em muitos momentos da vida, as facilidades tecnológicas podem ser nada além de uma tormenta. esse era um deles. o cronômetro do semáforo, antes um countdown para que a vida interrompida pelo trânsito seguisse seu curso, parecia agora ser uma bomba relógio. e quem não temeria a explosão que poderia acontecer? duas vidas que já foram tão “uma”...e agora eram tão “cada uma”...estavam prestes a colidir, no exato instante em que atravessassem o rio de piche que os separava.

5,4,3,2,1...verde!

cada um é arrasastado pelo fluxo da correnteza de seu lado da margem.

-oi, tudo bom?
-oi, tudo bom?

o clichê que ninguém responde, e sim devolve, também sem esperança de resposta. um encontro. nada de colisão, nada de explosão.sem pernas trêmulas, sem vontade de olhar pra trás e sem curiosidade de saber se quando olhassem o outro estaria olhando. sem saudades, sem suor frio. sem qualquer tipo de emoção.

“oi, tudo bom?” , nada mais.caminharam pesarosos em sentidos opostos. pouca coisa na vida é mais triste do que quando “oi, tudo bom?” quer dizer realmente apenas “oi, tudo bom?”...

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