
acordou procurando um cigarro. com ele pendurado na boca, procura pelos fósforos. um isqueiro.uma vela de sete dias. qualquer fonte de fogo. nada. a casa não era sua, não sabia o lugar de coisa alguma. fogão elétrico, a salvação. entre uma tragada e outra, lembranças da noite passada. na cama que não lhe pertencia. a cama que não era cama. o quarto que também não era quarto, e muito menos era seu. a consciência, que até então possuía, era roubada sistematicamete por pequenas lacunas de um delírio fugaz. um alguém que não fora e nem seria um bem de sua posse. nada era de sua propriedade, nada. entre uma tragada e uma lembrança, um sorriso escapa. sem querer. daqueles sorrisos que só os recém-pais de um rebento sabem sorrir. um transparecer de felicidade genuína.despretensiosa. desinteressada, e quem sabe até desinteressante. uma felicidade que talvez tenha lhe pertencido por um pífio lapso de tempo. não mais. entre tantas posses que não tinha, uma lhe era direito inalienável: tinha saudade.
e deste bem ninguém poderia destituí-la.