Sunday, April 22, 2007

paralelas



o que sinto é o oposto perfeito do que digo.como paralelas que nunca coincidem, embora vez ou outra fiquem muito próximas. quando digo demais, sinto pouco. quando sinto demais, não digo nada. pior mesmo é quando, num infinito suposto, as paralelas se encontram e o dizer coincide com o sentir. não porque eu fale sobre o que sinta. mas porque é quando eu nada falo, tampouco sinto.

Friday, April 20, 2007

ter


acordou procurando um cigarro. com ele pendurado na boca, procura pelos fósforos. um isqueiro.uma vela de sete dias. qualquer fonte de fogo. nada. a casa não era sua, não sabia o lugar de coisa alguma. fogão elétrico, a salvação. entre uma tragada e outra, lembranças da noite passada. na cama que não lhe pertencia. a cama que não era cama. o quarto que também não era quarto, e muito menos era seu. a consciência, que até então possuía, era roubada sistematicamete por pequenas lacunas de um delírio fugaz. um alguém que não fora e nem seria um bem de sua posse. nada era de sua propriedade, nada. entre uma tragada e uma lembrança, um sorriso escapa. sem querer. daqueles sorrisos que só os recém-pais de um rebento sabem sorrir. um transparecer de felicidade genuína.despretensiosa. desinteressada, e quem sabe até desinteressante. uma felicidade que talvez tenha lhe pertencido por um pífio lapso de tempo. não mais. entre tantas posses que não tinha, uma lhe era direito inalienável: tinha saudade.
e deste bem ninguém poderia destituí-la.