Friday, February 23, 2007

classificados

sinto. invariavelmente.o tempo todo. sinto, não nego. sinto e guardo. sinto e calo. não expurgo. deixo na gaveta. porque falar é exatamente o oposto de sentir. e não sentir é não viver. é passar pela vida em branco, como quem lê os classificados imobiliários só para ver o que estão anunciando.assim como os jornais, a vida perece. perde a validade, acaba no lixo de uma esquina deserta qualquer, como a vaga lembrança de algo que já foi relevante um dia. e é por isso que eu quero sentir tudo. que venham o amor, a raiva, a incerteza, a ansiedade, a preocupação. que venha o desespero. a alegria. que o ódio se bem-vindo, e traga a saudade como acompanhante. que a paixão faça seu RSVP o mais rápido possível. que o medo cumpra seu papel de bon vivant e compareça.que a tristeza não se intimide, e sinta-se em casa. porque eu quero a todos.mesmo que para guardá-los. mesmo que uma estranha alquimia os transforme todos em lágrimas.eu não me importo. porque quando todos os sentimentos transbordam, escondo o olhar sob grandes óculos escuros.

Monday, February 12, 2007

sobre borboletas e desconforto


um dia, as borboletas voltaram. sem aviso prévio, sem telefonema, sem tocar a campainha. bastava a lembrança e vinha tudo aquilo. tudo aquilo que ela pensava ter que passar o resto da vida sem sentir de novo. e já tinha até se acostumado. nem todo mundo nasceu pra ter as pernas trêmulas, pra suar de nervoso e pra sorrir sozinho enquanto espera na fila do banco. talvez o máximo que ela fosse ter de amor na vida fosse aquilo mesmo: uma companhia agradável, umas boas risadas e talvez até um pouco de cumplicidade.morno.insosso. mas, de certa forma, confortável.que se dane o conforto! agora nada parecia ter lugar. agora era tudo desassossego, era tudo desconfortável. e era tudo como ela sempre quis que fosse. as borboletas estavam ali. mesmo que voassem para longe. e de repente, tudo tinha graça. de repente ,tinha cor de novo. mesmo que as borboletas morressem logo- dizem que elas vivem por um dia apenas. um dia, nada mais.- mas de repente...valia a pena gostar.